Por que o Rio é a Nova Capital do Assassinato do Brasil

Rio de Janeiro O Gov. Wilson Witzel tem um objetivo em mente quando ele voa com helicópteros fortemente armados patrulhando acima das favelas espalhadas pelo seu estado.

“Vamos trazer ordem a esta casa”, diz o direitista brasileiro, flanqueado pela polícia militar com espingardas de assalto, em um de seus vídeos animados postados nas mídias sociais. “Termine com este banditismo que está aterrorizando nossa maravilhosa cidade”

Entre assassinatos policiais, assassinatos de gangues e tiroteios aleatórios, o estado à beira-mar reporta uma taxa de homicídios de 39 mortes para cada 100.000 pessoas, superando a taxa nacional de 27 por 100.000 – um nível em si extremamente elevado pelos padrões internacionais. O Rio se tornou um símbolo do desafio de segurança que o presidente de direita do Brasil, Jair Bolsonaro, se comprometeu a enfrentar.

A taxa marca um salto do mínimo de 23,6 mortes por 100 mil em 2015, quando a cidade, em plena preparação para os Jogos Olímpicos de 2016, implantou uma série de estratégias inovadoras, mas caras, para deter os assassinatos.

A cerca de 250 milhas ao sul do Rio de Janeiro, a situação não poderia ser mais diferente: Ao ser palco de tiroteios há menos de 20 anos, São Paulo é agora considerado um oásis de calma. O maior estado brasileiro por contribuição ao produto interno bruto no ano passado relatou uma taxa de homicídios de aproximadamente 10 por 100.000, a mais baixa do país. Só a cidade sofreu uma queda de quase 90% nos homicídios desde 2001.

A extensão da queda dos crimes violentos em São Paulo é de tirar o fôlego.

Robert Muggah, diretor de pesquisa do Instituto Igarapé

As diferentes fortunas dos dois estados mais famosos do país levaram criminologistas, políticos e especialistas a questionar por que isso aconteceu e que lições o Rio pode aprender da maior cidade do Brasil, sua rival no cenário nacional.

“A extensão da queda do crime violento em São Paulo é de tirar o fôlego”, diz Robert Muggah, diretor de pesquisa do Instituto Igarapé, um think tank focado em segurança no Rio de Janeiro. “Os índices de assassinatos oscilantes do Rio de Janeiro não são menos impressionantes”

Um “fator-chave” no sucesso de São Paulo tem sido o investimento sustentado na segurança pública, diz Muggah. “Os sucessivos governadores e secretários de segurança pública priorizaram a supervisão da polícia militar e civil, a educação e treinamento de novos recrutas e a distribuição mais inteligente dos ativos existentes”. Uma melhor coordenação entre a polícia civil e militar também ajudou, diz ele.

“É um governo historicamente bem gerenciado”, diz João Doria, governador de São Paulo, destacando como os sucessivos líderes têm guiado o estado em tempos difíceis, incluindo uma recessão de dois anos que só terminou em 2017.

Em contraste, o Rio declarou falência em 2016, após o infame escândalo de corrupção da Lava Jato (Lavagem de Carros), que implicou dezenas de empresários e políticos seniores e paralisou a economia do Estado. Os fundos secaram e o Estado cortou iniciativas, como os esquemas de policiamento comunitário que, embora controversos, foram creditados com a redução do número de mortes.

“O Rio de Janeiro foi fustigado por escândalos políticos significativos, deterioração econômica e um colapso das lideranças estaduais e municipais. Estratégias inovadoras para reduzir a criminalidade violenta desde 2008 foram prematuramente interrompidas ou desmanteladas devido à falta de fundos”, diz Muggah.

Estas reduções permitiram o ressurgimento de gangues criminosas, bem como a propagação de grupos de milícias dirigidas por ex-policiais. As milícias se expandiram para preencher o espaço deixado pelo estado – elas extorquem empresas locais, dominam o mercado de transporte local informal, a venda de propriedades comerciais e residenciais e mais.

“Não há mais um estado”. A lei da selva é a lei”, diz Bruno Paes Manso, um especialista em crime organizado da Universidade de São Paulo. “Os promotores estimam que 40% do estado do Rio de Janeiro é administrado por grupos de milícias”

Relativos e amigos choram Ana Cristina da Conceição, 42, e sua mãe, Marlene Maria da Conceição, 76. As duas mulheres foram mortas por balas perdidas durante um tiroteio entre policiais e traficantes de drogas no Rio de Janeiro.

Fonte Mauro Pimentel/AFP/Getty

As melhores fortunas econômicas de São Paulo não são a única razão para a sua maior segurança. A crescente profissionalização do crime organizado também tem sido um fator. Enquanto o Rio abriga um punhado de gangues guerreiras – como o sanguinário Comando Vermelho, ou Comando Vermelho – e milícias, a paisagem criminosa em São Paulo é dominada por um jogador – o Primeiro Comando da Capital, ou PCC.

Estabelecido no início dos anos 90, o PCC floresceu nos presídios superlotados de São Paulo, onde atuou como uma espécie de união de presos em face da brutalidade da guarda. Com a disseminação dos celulares no início dos anos 2000, o grupo rapidamente aproveitou a tecnologia, bem como sua enorme rede de presos e ex-reclusos, para vender drogas, incluindo cocaína e crack.

O PCC reconheceu que a violência era ruim para os negócios e só atraía o escrutínio da polícia, então optou por uma “forma mais profissional”, diz Manso, descrevendo como a gangue de 30.000 membros criou um sistema estruturado para a venda de narcóticos, tipicamente através da WhatsApp. “São Paulo é hoje o estado menos violento, mas é o mercado mais importante para as drogas”, observa ele.

Em São Paulo, “temos um monopólio”. Não há guerra porque temos o monopólio do crime organizado”, diz Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Meanwhile, a missão de helicóptero de Witzel é apenas a última repetição de um ato familiar para os moradores do Rio de Janeiro.

Entre fevereiro e dezembro do ano passado, o exército brasileiro enviou milhares de tropas para manter a ordem nas favelas do estado. O deslocamento, no entanto, teve pouco impacto sobre as mortes. Em geral, o número de brasileiros mortos pela polícia está aumentando – quase 20% no ano passado em relação ao ano anterior.

“No Brasil, há uma forte sensação de que a violência é uma solução, não um problema; que se você quer ordem, você precisa de violência”, diz Manso. “Mas as pessoas que vivem nas favelas não querem ser humilhadas pelo exército ou pelo Estado”. Se você tratá-los como inimigos, eles se organizarão contra o Estado, eles verão o Estado como seu inimigo”.

Relato adicional de Carolina Unzelte em São Paulo.

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